Localizado na região leste de Goiás, o município de Abadiânia, que fica a 78km da Capital, vive desde o último semestre do ano passado um cenário de declínio em seu rendimento econômico. A cidade ficou famosa internacionalmente por sediar a Casa de Dom Inácio de Loyola, onde João Teixeira de Faria realizava suas cirurgias espirituais.
Após as denúncias de abuso sexual e lavagem de dinheiro contra o médium, que vieram à tona em dezembro de 2018, o turismo religioso foi fortemente afetado. Diversos estabelecimentos comerciais faliram e os turistas que vinham inclusive do exterior, desapareceram.
Diante do declínio nas arrecadações e da necessidade imediata de retomar a economia local, a Prefeitura Municipal firmou parceria com o Sistema "S", para estruturação de um plano de ação a partir do mapeamento e diagnóstico empresarial da cidade.
Com a união dos esforços do Sistema Fieg/Sesi/Senai/IEL Instituto Euvaldo Loddi), Sistema Fecomercio/Sesc/Senac, Sistema Faeg/Senar, Sebrae Goiás e Universidade Salgado de Oliveira (Universo), foi elaborado um estudo a partir da expertise dos seus profissionais. Os resultados da pesquisa foram apresentados na última quarta-feira (3), na sede da Fecomércio, em Goiânia.
Faculdade Senac auxiliou no processo
Para ajudarem no desenvolvimento do diagnóstico situacional, alunos do curso de Gestão Comercial, da Faculdade Senac Goiás, atuaram como pesquisadores na região. Além de estarem contribuindo socialmente para a retomada econômica de Abadiânia, que conta hoje com cerca de 19 mil habitantes. A experiência enriqueceu o currículo dos estudantes, dado o desafio urgente que a situação exigiu.
O mapeamento feito pelo Sistema S, apontou por meio de pesquisa quantitativa o que já era esperado; as maiores perdas das empresas formalizadas e próximas a Casa Dom Inácio foram no setor de hospedagem: o faturamento caiu 85% entre dezembro de 2018 e março de 2019. Mas o cenário ruim atingiu toda a cidade. O ramo do vestuário e da confecção também sofreu perdas de 85%. O setor de alimentação encolheu 53%. Já no mercado informal, o artesanato reduziu o faturamento em 83%. Lanchonetes, restaurantes e cafés sofreram perdas de 67%.
Os entrevistados na pesquisa acumulam dívidas que chegam a R$ 2,9 milhões. O estudo aponta que 39% das famílias foram afetadas com os acontecimentos. Para as empresas próximas a Casa Dom Inácio esse percentual é maior: 51%.
Sistema S; Instituições apresentam estratégias de mudança
O presidente do Sistema Fecomércio/Sesc/Senac-GO, Marcelo Baiocchi, disse que o trabalho das entidades do Sistema S é importante para a recuperação de Abadiânia. "Sem dúvida nenhuma, a união destas entidades pode mudar o perfil e o caminho que o município está direcionado a caminhar", disse, citando o problema grave da perda na atividade econômica. "Estas entidades estão dispostas a mudar o futuro daquele município, para que os impactos da perda da atividade econômica não sejam tão cruéis, como se desenha", afirmou.
Baiocchi ressaltou que a pesquisa mostrou um cenário preocupante e citou a queda no comércio da cidade, que chegou a quase 60%. "O município está perdendo muita riqueza, em curto espaço de tempo. A reação é necessária, para que isso se reverta", disse. "Precisamos trazer todos juntos, para que isso aconteça: o poder executivo municipal, o governo do estado, e trazer incentivos para aquela região", conclamou. O presidente afirmou que será dado apoio aos empresários, para a retomada dos negócios.
O Diretor Regional do Sesc e do Senac em Goiás, Leopoldo Veiga Jardim, enxerga como "uma ação que demonstra a responsabilidade que o Sistema "S" tem com a sociedade e, neste caso, especialmente, com a população de Abadiânia. É certamente uma meta arrojada garantir opções para a força de trabalho que ficou ociosa neste município".
Na manhã desta quinta-feira (4), as instituições do Sistema Fieg/Sesi/Senai/IEL, Sistema Fecomercio/Sesc/Senac, Sistema Faeg/Senar, Sebrae Goiás juntamente com a Prefeitura de Abadiânia, apresentaram aos empreendedores e a população da cidade a programação de cursos, oficinas e consultorias que serão oferecidos a partir do mês de agosto. A ideia é explorar novos nichos econômicos, incentivando atividades culturais e artísticas no município como forma de reverter a crise gerada.