Francyelle Nunes - Estagiária de jornalismo Inclusão social

Aluno surdo conclui graduação no Senac e dá exemplo de superação

A Faculdade Senac disponibilizou equipe de apoio acadêmico para auxiliá-lo no desenvolvimento das competências do curso de Designer Gráfico

Postado por: Senac Goiás
A manhã da última quarta-feira (26), pode ter sido mais um dia útil comum na vida de milhares de pessoas, mas para o estudante Vitor Cruvinel Borges, de 25 anos, a data ficará marcada para sempre. Enfrentar a banca examinadora do temido Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), é um desafio que deixa qualquer um ansioso. Mas no caso dele, a apresentação teve uma simbologia que vai muito além do prazer de terminar o ciclo de estudos da graduação. No auditório do Senac Cora Coralina, foi concretizada sua primeira grande vitória contra as barreiras que a condição de não poder ouvir o mundo, lhe fez criar dentro de si. 
 
Fluente em libras, Vitor conta que essa foi sua primeira experiência de convivência coletiva depois da conclusão do ensino médio. "Eu tinha um pouco de medo, de insegurança em lidar com as pessoas. Tinha medo do TCC também, de ter mais dificuldade em fazer. Tive dificuldade no início para interagir com os alunos. Quando cheguei aqui, não conhecia ninguém. A comunicação era difícil, eu tinha que escrever. Mas aos poucos fui conseguindo interagir melhor com eles", afirmou. 
 
Para melhor aproveitamento e desenvolvimento das habilidades, a unidade disponibilizou uma equipe de apoio acadêmico para auxiliar Vitor. A intérprete Ludmila Martins Coelho, 30, foi quem o acompanhou nas aulas durante os cinco períodos. Sempre ao lado do aluno esclarecendo dúvidas e fazendo a ponte comunicacional entre ele e a turma, a moça confessa que às vezes ficava difícil conseguir separar o profissional do pessoal. 
 
Uma situação que exemplifica bem a extensão dos laços de carinho e cuidado para com o rapaz, foi a intervenção de Ludmila, bem como dos professores, na tentativa de desistência que ocorreu durante a execução do projeto final. "Ele esteve sempre buscando melhora, por mais que tivesse momentos de desanimo. No TCC mesmo houve um momento que ele pensou em desistir. A família veio, tivemos uma conversa com toda a equipe do Senac que o acompanha. Todo mundo tentando achar uma forma de ajuda-lo. A melhor forma para ele se desenvolver. Por fim, entramos num consenso e ele resolveu voltar. E voltou outra pessoa, mais esforçado, disposto", aponta. 
 
 
 
Instituição e família unidos num único propósito 
 
O Senac sempre se esforçou para fazer com que a passagem do Vitor pela instituição, fosse uma experiência transformadora. Mas de nada valeria o esforço dos profissionais envolvidos no processo, sem o apoio e comunicação direta com a família do aluno. Está união é primordial para que a aprendizagem seja inclusiva e bem aproveitada. 
 
O próprio Vitor expôs durante a entrevista que, não fosse o empenho da equipe e o apoio da mãe, teria abandonado o curso. "Tive vontade de desistir em alguns momentos, por conta do português que eu tenho muita dificuldade. E minha família me deu bastante suporte. Minha mãe me ajudou muito para que eu me esforçasse e permanecesse. Todos os professores me ajudaram bastante, principalmente o professor Aurisberg que foi meu orientador e exigiu muito de mim. Ele sempre me deu suporte, me explicou o quanto era importante eu me desenvolver, me esforçar mais. Eu tive bastante suporte do Senac", relatou. 
 
 
 
Coração quentinho
 
O processo de inclusão de surdos em diferentes níveis educacionais, ainda é um grande desafio no nosso país. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) levantados no ano de 2010, vivem no Brasil mais de 10 milhões de pessoas com deficiência auditiva ou surdez. Aberto as diversidades, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial, busca fornecer uma experiência de ensino aprendizagem humanizada a todos os seus alunos. 
 
No processo inclusivo de deficientes e pessoas com condições especiais, a instituição realiza um planejamento acadêmico que visa assegurar toda a assistência necessária para que haja um aproveitamento o mais igualitário possível. Coordenação pedagógica, professores e demais colaboradores internos estão sempre focados no propósito de promover a mudança. Afinal, lidar com histórias de superação como a do Vitor, traz benefícios a todos que participam do processo. Cultua o respeito, o amor ao próximo. Mudando paradigmas e quebrando preconceitos. 
 
O coordenador dos cursos de Design do Senac, Marcos Costa de Freitas, comentou que a convivência com estudantes surdos trouxe um novo ponto de vista do mundo para sua vida. "Eu vim do interior ne?! E por cultura, as pessoas sempre isolavam o surdo. Eu tinha um surdo na família, isolaram ele. Presume-se que a surdez representa algum tipo de dificuldade mental, o que não é realidade. O surdo é tão inteligente quanto qualquer outra pessoa, ou mais. O grande problema que se estabelece é o da comunicação mesmo e é um problema nosso. Porque é a gente que não consegue a comunicação. Eu fico pensando quantos surdos não tiveram acesso a inclusão e por isso não se desenvolveram. Por questão de preconceito, por falta de condições sociais", declarou. 
 
Marcos, que também atua como professor, apontou que por conta de estar totalmente atrelado com a comunicação visual, o curso de Design Gráfico sempre atraiu um número maior de alunos surdos. Diante do constante convívio com este público, uma nova necessidade moral foi aflorada dentro do educador. "A experiência, o contato com o aluno surdo mexe um pouco com a cabeça da gente. Hoje eu me sinto péssimo por não saber falar em libras. Acho que como professor eu preciso aprender", expôs. 
 
Há mais de três anos trabalhando no Senac, a interprete Ludmila Martins Coelho, disse que percebe uma distinção entre o processo inclusivo que é realizado por outras escolas. "Relação com o professor é o diferencial do Senac. Eu já trabalhei em outras instituições e pude notar. Aqui já acompanhei uns quatro alunos com deficiência auditiva e eu percebo muito isso, que os professores estão sempre muito dispostos, muito abertos. A dar o suporte, a tentar sanar as dúvidas do aluno. Isso é um diferencial, é inclusão de verdade". 
 
Graças a essa estrutura, Vitor conseguiu dar um grande passo em sua vida profissional e principalmente pessoal, como ele mesmo revela. "A faculdade foi uma coisa séria que eu vou levar pra minha vida. Agora eu me sinto bastante aliviado de ter conseguido participar e fazer todo esse processo. Me sinto bem mais seguro depois dessa experiência. Eu sinto que consegui atravessar essa barreira".
 
Em tom de despedida, Ludmila que esteve ao lado de Vitor em todas as etapas expressou a felicidade que sente ao ver o rapaz concluindo sua formação. "Pra gente que é interprete, é muito gratificante essa evolução do aluno. A gente vê e sofre com o aluno junto, é meio difícil separar o profissional do pessoal quando você lida com a pessoa todos os dias. Eu diria que é muito recompensador. Apesar de todas as barreiras, de todas as dificuldades, ele conseguiu concluir o TCC e foi muito bem na apresentação dele. Então pra gente dá um quentinho assim no coração."
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