Setor ambiental: as áreas mais verdes das empresas
Necessidade de cumprir normas legais e regulamentares gera demanda por profissionais que tragam sustentabilidade aos negócios
EstadãoPoucas áreas de atuação apresentam tantos desafios quanto a ambiental. Problemas como aquecimento global, escassez de recursos hídricos, perda de biodiversidade e esgotamento dos solos, só para citar alguns, não ocorrem de forma abrupta e imediata. São processos relativamente lentos, por isso existem aqueles que os ignoram, não dão devida importância aos seus efeitos, ou simplesmente acreditam que no futuro eles serão resolvidos de alguma forma. As soluções para estes desafios ainda estão distantes, mas tem muita gente trabalhando para, ao menos, reduzir o impacto da atividade humana sobre o meio ambiente.
Instituições públicas, empresas e entidades do terceiro setor estão cada vez mais alinhadas com princípios de sustentabilidade. Como resultado, a demanda por profissionais ligados à área ambiental vem aumentando continuamente, embora não de forma acelerada. As empresas são as principais empregadoras, não só porque em quantidade representam a maior parte do mercado, mas sobretudo para cumprir normas legais e regulamentares.
Em geral, a área de meio ambiente compõe o sistema de gestão de uma empresa, assim como segurança e qualidade de trabalho, contudo ela pode assumir outros graus de relevância. “O primeiro estágio é cumprir a legislação, o segundo é ter uma área que agregue valor à operação, ou seja, torná-la mais eficiente, e o terceiro passo é trabalhar práticas de sustentabilidade”, explica o gerente executivo da recrutadora Michael Page, Diego Mariz.
Segundo levantamento do site de classificados de empregos Catho, os segmentos de prestação de serviço, engenharia, consultoria, educação e construção civil são os que mais empregam profissionais desta área. O diretor do site Luis Testa conta que anteriormente era mais comum essas vagas se concentrarem em empresas de engenharia e construção civil. Agora, como cada vez mais outros segmentos precisam se adequar às normas ambientais, eles buscam ajuda especializada em empresas de prestação de serviço e consultoria. Testa destaca ainda que é interessante notar o crescimento da contratação de professores para trabalhar com educação ambiental.
A maioria das vagas é para analista, engenheiro, técnico e consultor. A carreira exige conhecimentos muito específicos, dependendo do setor de atuação da empresa. À medida que este mercado foi crescendo, surgiram vários cursos de graduação, pós-graduação e técnicos, que proporcionam especialização, mesmo ao profissional em início de carreira. De acordo com a coordenadora da área de meio ambiente do Senac São Paulo, Mônica Medina, estes cursos são procurados por pessoas de diferentes idades e interesses. O curso técnico visa à entrada mais rápida no mercado de trabalho. Cursos de graduação, como engenharia ambiental, têm predominância de jovens que buscam uma formação mais ampla para atuar neste segmento, enquanto na pós-graduação é comum encontrar pessoas de diferentes formações interessadas em migrar para a área ambiental.
Geralmente, profissionais de nível técnico se especializam em determinada tecnologia ou análise, mas também precisam conhecer os processos industriais e de operação. “É essencial que o profissional saiba os prós e contras do negócio e como as questões ambientais podem influenciar numa tomada de decisão ou impactar no resultado futuro”, observa o coordenador de sustentabilidade da Bunge, Rodrigo Spuri.
A área de meio ambiente não está diretamente ligada ao negócio da empresa, mas são fundamentais para definir as operações. Para Mariz, o gestor desta área precisa ter uma habilidade de influência muito grande. “Ele vai implementar novos procedimentos, formas de trabalho e processos em áreas que não estão sob sua responsabilidade para cumprir as normas de meio ambiente”.
O profissional deve interagir com todos os segmentos internos, visando o que pode ser feito para melhorar os indicadores ambientais da empresa, como consumo de água e de energia, geração de resíduos e emissão de carbono e poluentes atmosféricos. “É preciso engajar os colaboradores relacionando a sustentabilidade com os desafios que eles têm no dia a dia”, comenta o gerente de sustentabilidade da Natura, Keyvan Macedo. Formado em engenharia de alimentos, Macedo havia passado por quatro departamentos, quando surgiu a possibilidade de estabelecer um processo transversal a todas as áreas da empresa. “Foi a oportunidade de crescer profissionalmente e ainda contribuir para a construção de um mundo melhor”.
Para Spuri, investir em sustentabilidade é uma questão de sobrevivência da empresa. Ele acredita que, no futuro, não haverá mais um especialista apenas com este foco. “Qualquer profissional vai considerar aspectos sociais, de diversidade e de eficiência na hora de tomar uma decisão”.
Por Thiago Sawada
Fonte: Estadão